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26 de Fevereiro de 2021

Game Changer 11 – Entrevista com José Franco

Formado na Universidade Lusíada de Lisboa em Business Management, começou como jornalista em 1994, tendo cumprido o seu sonho de trabalhar em mercados financeiros em 1997. Após esta experiência chegou à conclusão que não era algo o suficiente fascinante e apelativo, tendo posteriormente desempenhado outro tipo de funções ligadas à comunicação.

Em 2007, fundou a sua agência de comunicação, a Corpcom, atualmente uma das consultoras de comunicação mais premiadas em Portugal. Além das funções exercidas na Corpcom, José Franco, é também júri em reputados prémios nacionais e internacionais de comunicação, como os Sabre Awards e Cannes Lions.

Nesta entrevista, desvenda mais acerca de todo o seu percurso profissional, relembrando e fazendo um balanço de todas as etapas, ao mesmo tempo que avalia e faz perspetivas futuras acerca da comunicação nas organizações.

 

A sua carreira profissional tem estado sempre ligada à comunicação, começando no jornalismo e posteriormente em agências de comunicação, tendo passado por telecoms. Podemos dizer que a sua comunicação é a sua grande paixão? O que o atraiu (e atrai) nesta área?

JF- Curiosamente vim parar a esta indústria de forma acidental. O meu sonho era trabalhar em mercados financeiros. O jornalismo económico, onde comecei em 1994, foi o trampolim adequado para chegar lá. Acontece que quando cheguei aos mercados, descobri que a análise financeira era aborrecida e nem tinha muito jeito e muito menos vontade para passar um dia inteiro à volta de folhas de Excel e a fazer research. Felizmente acabei por desempenhar outras funções e que me permitiram manter uma ligação ao jornalismo, aos conteúdos, e às ferramentas de marketing e comunicação. Depois trabalhei nas empresas, com o pelouro das “corpcomms”. Sempre ambicionei trabalhar no cliente ou até voltar para o jornalismo, mas acabei por ficar neste fascinante mundo da comunicação. A minha maior paixão é potenciar oportunidades e resolver problemas. A comunicação é uma área onde isto acontece todos os dias, logo estou no sítio certo.

A sua formação em gestão de empresas tem sido útil para passar a mensagem das organizações com que trabalha? Em que aspetos?

JF- Sem dúvida, apesar de ter aprendido mais no jornalismo económico que no curso superior de gestão. O curso deu-me naturalmente recursos para perceber de negócios, de conceitos económicos e financeiros, de gestão de pessoas e de marketing, mas o jornalismo económico amplificou essa formação. Hoje os meus clientes são maioritariamente empresariais pelo que falamos na mesma língua.

Em 2007 fundou a agência de comunicação Corpcom. Esperava alguma vez vir a gerir a sua própria organização?

JF- Quando sai da OniWay (quarto operador móvel 3G que fechou antes de abrir), em janeiro de 2003, passei uns quantos meses a desenhar várias startups. Uma de trotinetes elétricas para turismo com um modelo de negócio de publicidade, uma plataforma para aulas de guitarra online, e umas quantas outras ideias. Mas acabei por aceitar ir trabalhar para uma agência porque me foi dada a hipótese de ter sociedade. Nunca tive grande vontade de ir para agência e acima de tudo não queria ser assalariado, queria assumir risco. Como isso acabou por não acontecer, aos 35 anos, e depois de uma carreira sólida, acabei por fundar a minha própria agência, com um laptop e um telefone. Uma decisão acertada.

O que o levou a tomar a decisão de fundar a sua empresa de comunicação?

JF- Acima de tudo, provar a mim mesmo que conseguia empreender, criar, fazer crescer. Podia ter sido a fundar uma Corpcom ou outro negócio. Já tinha experiência suficiente e bastante conhecimento para poder fundar um negócio. Em 2006, ainda montei uma representação de plataformas de marketing digital pois sabia que esse seria um mercado de futuro. Um ano mais tarde acabei por fundar a Corpcom, depois de muitas solicitações de clientes, e até de jornalistas. Conciliei os dois negócios até 2010, foi aí que decidi apostar apenas na Corpcom, devido ao êxito que estávamos a ter, recrutando pessoas e gerindo equipas.

Tem trabalhado com muitas tecnológicas e startups. Foi um acaso ou é uma área para a qual sinta particular apetência?

JF- Sempre estive perto da tecnologia e das startups, por exemplo, quando trabalhei no mercado financeiro, entre 1997 e 2000, e acompanhei toda a bolha das “dotcom” e muitas startups portuguesas. Mas há 10 anos, quando Portugal foi intervencionado pelo FMI, e a geração à rasca saiu à rua, achei que a minha missão deveria apoiar a nova geração de empreendedores que estava a aparecer. Por isso, juntei-me à Beta-i, hoje a mais importante organização do nosso ecossistema, com a missão de mudar mentalidades através da comunicação, da divulgação dos eventos e dos aceleradores. Convencer os diretores dos jornais a acompanhar o que estava o José Neves a fazer e não o Zeinal Bava, uma missão ingrata. Não tinha dúvidas que as grandes empresas iriam nascer nesta década criadas por incríveis empreendedores que hoje vêm as suas empresas a valer mais do que os pesos pesados do PSI20. São hoje o cartão de visita de Portugal, hoje respeitado e admirado pelo mundo em particular no campo da tecnologia.
Missão cumprida.

Quais os maiores desafios de trabalhar organizações de áreas tecnológicas?

JF- Não são muito diferentes de outras indústrias. Na comunicação, aplicamos as mesmas metodologias a uma empresa de alta tecnologia complexa, ou de um produto de beleza ou de moda. No caso das organizações tecnológicas portuguesas a área mais desafiante é o employer branding. São empresas que mais do que negócio, procuram ser admiradas e atrair talento. Concorrem todas umas com as outras. Continuo a achar que a tecnologia irá ser a base dos negócios, logo é uma indústria de futuro. E hoje, com a pandemia, tudo o que potencia a transformação digital está em alta. A comunicação é cada vez mais importante para estas empresas, como para muitas outras indústrias essenciais ao desenvolvimento do país e que estão a sofrer uma conjuntura difícil.

E quais os projetos de que mais se orgulha?

JF- Orgulham-me mais as pessoas do que os projetos, em particular da minha equipa, dos que trabalham e já trabalharam comigo, e dos clientes que nos depositam diariamente a sua credibilidade e confiança na Corpcom.
Em relação a projetos, além de termos feito parte de um movimento que mudou a perceção sobre as nossas capacidades individuais e coletivas ao ponto de criar e erguer empresas globais, quando parecia que todos os jovens tinham atirado a toalha ao chão, há outros projetos que me orgulho em apoiar, como o caso do Apps for Good, que foi agora premiado pela UNESCO, ou o Manicómio, projeto de impacto social e artístico na área da saúde mental.

Muita coisa mudou na forma como comunicamos nestes 13 anos. Quais são, para si, as grandes diferenças? Quais foram os principais fatores “game changer” na comunicação das organizações neste período?

JF- A digitalização e transformação dos media e da indústria dos conteúdos. Há 13 anos havia meia dúzia de utilizadores do Facebook em Portugal e apareceu o iPhone. Eu ainda sou do tempo em que os press release seguiam por fax e o email era coisa de luxo só acessível por alguns.
Toda a nossa forma de comunicar mudou, os modelos de negócios da indústria de conteúdos, do marketing e da publicidade também mudaram.
A tecnologia mudou definitivamente o mundo da comunicação, tal como mudou toda a nossa vida quotidiana. A área de Relações Públicas foi-se adaptando e é ainda mais valorizada pois qualquer organização, marca ou pessoa tem que comunicar de forma estruturada com diferentes públicos, seja de forma mais tradicional ou através de canais próprios, incluindo o digital.

Tem integrado o júri em prémios nacionais e internacionais de comunicação, como os Sabre Awards e Cannes Lions. Como avalia o trabalho que se faz atualmente nesta área?

JF- Muito positivo. É interessante ver que os grandes projetos vencedores nem sequer são de agências tradicionais de Relações Públicas mas de agências de publicidade através da criatividade. Isso significa que ainda temos muito para fazer, e melhorar, criando projetos de grande impacto que podem mudar comportamentos e perceções.

Quais considera ser os maiores entraves ao surgimento e desenvolvimento de boas ideias e que conselhos tem para os ultrapassar?

JF- Vejo muita falta de coragem em avançar com projetos ou iniciativas que vão além do que é convencional ou que nunca foram feitas. Em Portugal copiam-se ideias que já tem provas dadas, ainda existe muito medo de fazer diferente e poder falhar. Só depois dos outros fazerem, é que as boas ideias são reutilizadas. Isso acontece no ativismo das marcas, quando se abraça uma causa polémica. Ou por exemplo na indústria dos patrocínios, ninguém apostou no desporto motorizado, no Miguel Oliveira ou no António Felix da Costa. Agora todas as marcas estão atrás deles. Curiosamente, em 2007, colocamos um e outro num mano a mano de um jogo para a Xbox, tinham eles 12 anos, frente a uma plateia de jornalistas. Falta visão e coragem.

Como vê área da comunicação daqui a 10, 20 anos?

JF- Será certamente multiplataforma e integrada com outras áreas, e com um peso maior nos canais digitais, onde o “own media” será preponderante, com conteúdos e canais próprios, utilizando dados e plataformas.

Voltando um pouco atrás, se não trabalhasse em comunicação o que gostaria de fazer?

JF- Trabalharia em qualquer área onde a comunicação pudesse acrescentar valor. No turismo, na cultura, lançando negócios ou até projetos sociais. Tirando isso, passou-me uma carreira musical ao lado.

Que planos ainda tem e não realizou?

JF- Deixo que o presente me encaminhe para o futuro, sem olhar muito para trás. Como já plantei muitas árvores, e já tive filhos, falta-me escrever um livro. Talvez em 2021.

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