Formado na área de gestão e administração de empresas, participou em diversos projetos que lhe permitiram ter uma melhor perceção da realidade das empresas e das suas necessidades, identificado dessa forma oportunidades que poderiam ser colmatadas, a falta de formação por parte das empresas e a grande diferença entre a teoria ensinada no percurso académico e a realidade prática nas organizações. Daí partiu a construção de um projeto, a criação do grupo Rumos, do qual Rui Correia é Presidente e CEO há 28 anos.
Nesta entrevista, menciona como tudo surgiu, como conduziu o projeto ao sucesso, o que mais se orgulha, o que ainda pretende realizar, e quais são os próximos passos a seguir…
O seu percurso profissional está, há 28 anos, intimamente ligado com o do Grupo Rumos – Knowledge Sharing. Quais eram, há 28 anos atrás, os seus objetivos pessoais e profissionais e em que medida foram divergindo do trajeto efetivamente realizado?
RC- Nos últimos anos do meu curso superior na área da gestão e administração de empresas, à data com 5 anos de duração, muitas ideias e oportunidades existiam, mas como quase tudo na vida, “o caminho faz-se caminhando” e aproveitando convites de professores do ISCTE e IST, tive a grande oportunidade de participar em projetos muito próximos e ligados à realidade das empresas. Através de centros de estudo universitários muitos focados na ligação universidade empresas, consegui criar uma ideia muito clara da estrutura empresarial
real à época, da enorme falta de formação existente ao nível das empresas e do gigantesco “GAP” entre a teoria ensinada nas Universidades e as necessidades práticas das empresas. Estamos a falar de um outro país, onde apenas uma pequena percentagem conseguia acesso ao ensino superior, muito diferente de hoje, muito mais cinzento e formal, bastante mais pobre e sobretudo muito menos confiante, amarrado a traumas e muito afastado de conceitos de empreendedorismo e inovação.
Conseguimos com muitas voltas e curvas construir um projeto, RUMOS que hoje tem mais de uma dezena de empresas e mais de 1000 colaboradores, e onde todos os dias continuamos a arquitetar e a evoluir o que tem permitido manter a chama da motivação e contribuição para a sociedade.
Foi uma escolha espontânea ou foi condicionada/ incentivada por algum acontecimento na sua vida?
RC- Para mim foi sempre muito claro, queria participar profissionalmente em algo que viesse promover e construir algo diferente do que exista no mercado. Alargar horizontes e desenvolver novas ofertas e interesses. Nunca ambicionei ser mais um concorrente no mercado e dividir a procura existente entre concorrentes.
Que características pessoais e profissionais considera que foram essenciais para o seu sucesso? E da organização?
RC- Resiliência, persistência e foco no que é realmente importante dentro dos valores e motivações pessoais e do conjunto de pessoas da organização.
Não foi nem é fácil, nunca é confortável resistir a ofertas de emprego e empresariais, ditas “sólidas e seguras” de empresas nacionais e internacionais, e continuar a participar e promover projetos mais de raiz em áreas tecnológicas, envolvendo consultoria, educação, formação e certificação profissional de nível e reconhecimento internacional.
Qual o balanço que faz do percurso realizado; pelo Rui e pelo grupo?
RC- Sinceramente, não faço grandes balanços estou mais focado no futuro que é bastante desafiante e ainda mais no contexto atual de saúde pública e alteração de fundamentos económicos e sociais.
Na medida em que nunca ambicionamos ser só mais um concorrente no mercado e dividir a procura existente entre concorrentes, a avaliação do percurso é bastante interessante. Não é fácil encontrar comparáveis no mercado com o nosso projeto, somos diferentes, mantemos solidez no caminho e continuamos a desafiar-nos em áreas de exploração onde as oportunidades de crescimento e de valor para a sociedade são muito grandes e diferenciadoras… e procurar continuar a ligar e fazer pontes entre áreas “não óbvias e lineares” sobretudo antes de serem realizadas.
De que mais se orgulha quando olha para o seu percurso?
RC- O sempre termos privilegiado o verdadeiro desenvolvimento das PESSOAS, esse é o resultado que mais me orgulha… ao longo destes anos são dezenas de milhares de pessoas que aos mais variados níveis conseguimos “tocar” e profundamente ajudar a desenvolver e fortalecer.
O que gostaria de fazer/realizar que ainda não conseguiu?
RC- Não tanto a nível pessoal nem mesmo da empresa, mas mais ao nível associativo, não consegui contribuir como gostaria para organizações empresarias ou políticas fortes, sérias e focadas. São muitos os projetos que não têm consciência que a ética tem de vir antes do negócio, que as empresas são comunidades, onde as pessoas criam hábitos, defendem valores e se desenvolvem como profissionais e cidadãos.
As empresas devem esses valores de volta à sociedade, e apesar de muito bons exemplos, o maior problema continua a ser a qualidade na gestão nas empresas e no estado.
O Grupo Rumos – Knowledge Sharing, está focado na criação e partilha de conhecimento. Nestas quase 3 décadas, quais foram as maiores inovações e contribuições do grupo para essa partilha de conhecimento?
RC- É claro e unanimemente reconhecido a falta de Recursos Humanos especializados nas áreas tecnológicas. Esta realidade é de ontem, de hoje e será de amanhã, na medida em que Portugal se vai fortalecendo como um Cluster importante na nesta área na Europa. Esta necessidade é conhecida, sentida e propalada.
Mais que analisar, nós centramos a nossa atividade e orientamos os nossos colaboradores e clientes, pessoas e organizações, formando-as, certificando-as e fomentando nas equipas de projeto a importância da colaboração e partilha de know-how, entre todos os intervenientes, promovendo formas que tornem mais fácil para indivíduos, equipas e organizações trabalharem juntos a fim de contribuírem para o sucesso uns dos outros na sociedade do conhecimento de hoje.
Não é fácil encontrar alguma organização em Portugal que não tenha pelo menos um recurso que não tenha passado de alguma forma pelo nosso projeto.
Entre as suas 3 sub-holdings empresariais (Education, Training e Consulting), e principais áreas de negócio, o Grupo é responsável, anualmente, pelo desenvolvimento e preparação de milhares de profissionais e organizações em todo o país. Sente o peso dessa responsabilidade? De que forma?
RC- Sim, é verdade, existe essa noção de responsabilidade e é forte. No fundo é o compromisso que temos como organização.
Todo o nosso planeamento anual e plurianual procura ter como foco todos os grupos interessados na empresa e a sociedade em geral. Não é fácil, mas é nossa responsabilidade, na medida do possível, contribuir para com o desenvolvimento económico nas comunidades em que atuamos. Mais que só um desígnio estratégico, é uma obrigação para com a nossa sobrevivência como grupo relevante. Os consumidores e os vários interessados, cada vez mais não aceitam apenas o discurso de organizações que se denominam éticas. Cada vez mais avaliam, analisam, distinguem e dão prioridade a todas aquelas que de facto, colocam a responsabilidade social em prática.
A retenção e atração de talento qualificado, o envolvimento no seu desenvolvimento, motivação, na sua segurança, saúde (muito especialmente nesta fase pandémica) e manutenção do retorno justo e sustentável para colaboradores, financiadores e acionistas são elementos fundamentais, mas bastante mais fácil de enunciar do que executar.
Mas é a sua concretização na prática de quase duas décadas que nos dá força e motivação para continuar a ajustarmo-nos e adaptarmo-nos às mudanças globais e continuar a levar em conta o interesse de todos os envolvidos nas obrigatórias evoluções e adaptações nos negócios. Cremos teimosamente em continuar a manter relacionamentos saudáveis, com parceiros, concorrentes e coopetidores, fornecedores e consumidores, sermos elementos ativos e diferenciadores na construção de valor nos nossos ecossistemas.
Quais foram os principais momentos “Game Changer” na sua organização e de onde surgiram? (internamente, do mercado, da sociedade…)
RC- A adaptação, as alterações a MUDANÇA. Foram vários os momentos de transformação organizacional, por motivos internos e externos sempre associados aos ciclos económicos, momentos duros e intensos, esses foram sempre os momentos “Game Changer”, alturas várias que serão sempre a essência de uma organização que aprende, que aplica os seus esforços constantes para se aprimorar para os desafios e oportunidades.
Que conselhos daria aos futuros profissionais que se preparam para entrar no mercado de trabalho?
RC- Mais que conselhos, posso fazer algumas constatações e sugestões. Todas as profissões do futuro vão ter um fator em comum: a inclusão na sociedade crescentemente suportada em tecnologia e que vai continuar a aumentar exponencialmente…
Acredito que os processos na sociedade tendem a tornar-se mais inteligentes e automatizados. Assim, é provável prever que quanto mais operacional e repetitiva for determinada ocupação, mais tenderá a desaparecer ao longo dos anos.
Pensar em carreiras futuras pode significar prognosticar o que estará em alta e dará retorno financeiro satisfatório daqui a alguns anos. Mas o conceito de retorno financeiro por si só é duvidoso e carreiras no futuro serão com certeza mais voláteis.
FOCO no que o faz mais feliz!
Defina o que realmente gosta. Pode não parecer, mas muitas vezes é o mais difícil. Depois aprenda e treine colaborativamente e experimente…
Mude, mude se for caso disso… Quando descobrir o quer mesmo…junte os seus gostos às suas melhorescompetências e NÃO HESITE… Aposte TUDO a fundo…
Esse normalmente é o segredo de um profissional feliz e o mundo necessita de bons profissionais e de pessoas felizes.
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