fbpx
10 de Setembro de 2021

O que Gerir em um Ambiente de Incertezas? – Game Changer 13

Uma reflexão sobre o mundo em que vivemos e o papel expectável das organizações.
Entre muitas interrogações, uma certeza: mais mudanças virão!

Em termos de gestão das organizações, é sempre prudente recorrer a análises estratégicas de macroambiente – precisamente para perceber ou antecipar como os mais diversos fatores externos podem impactar o negócio e o contexto em que ele está inserido.

Até então, nada novo: há desde ferramentas clássicas como as “Cinco forças de Porter”, publicada pela Harvard Business Review em 1979, até frameworks mais recentes, como “Context map”. Ambos oferecem diferentes dimensões para este diagnóstico.

O fato é que o ano de 2020 desencadeou uma série avassaladora de transformações. As crises decorrentes da COVID-19 superaram as fronteiras sanitárias e escancararam as fragilidades dos nossos sistemas produtivos e económico. Assim como expuseram ainda mais as vulnerabilidades e desigualdades sociais globais.

Há quem aponte que mais fenômenos de grandes proporções continuarão a acontecer. E pode ser sensato ter isso em conta na visão estratégica e de longo prazo da organização. É nisso que se ampara a teoria dos “Cisnes Negros”, desenvolvida pelo matemático e estatístico Nassim Taleb.

Segundo o autor, vivemos num mundo não-linear, interdependente e desconhecido – por isso estamos expostos a acontecimentos raros e inesperados de toda a sorte. Para piorar, a probabilidade de ocorrência desses eventos tendem a ser subestimados por nossos modelos preditivos, apesar de serem incidentes com impactos catastróficos. A crise financeira de 2008, os ataques terroristas de 11/09, o desastre nuclear de Fukushima e a própria pandemia de 2020 figuram como exemplos de “Cisnes Negros” recentes.

Ou seja, ainda que os abalos da crise económica e sanitária sejam evidentes, há sequelas que avançam sobre pilares que constituem os fundamentos das sociedades modernas e naturalmente afetam o ambiente em que as organizações estão inseridas.

Tanto pelo crescente cenário de instabilidades políticas, ameaças à democracia e desconfiança sobre a capacidade das atuais lideranças globais, quanto pelas alarmantes conclusões científicas sobre os limites do planeta e à respectiva pressão das atividades humanas sobre os sistemas da Terra, é fundamental encontrarmos novas respostas para os desafios sociais e ecológicos do século XXI.

E o que isto tem a ver com a gestão das organizações? As mudanças são inevitáveis – e tão importante quanto adaptar-se à elas, é cocria-las.

“Se você não pode medir, não pode gerenciar.” – Peter Drucker

Isso é o que reforça, por exemplo, o estudo divulgado pela Edelman “Trust Barometer 2021. O instituto, especialista global em pesquisas de reputação do setor público e privado, trouxe importantes observações nessa direção. Entre elas:

As empresas foram reconhecidas como as instituições com maior prestígio e confiança entre todas – ONGs, Governo e Média configuram os demais lugares no ranking, respetivamente. Ainda de acordo com o relatório, 68% dos participantes acreditam que os negócios devem intervir quando o governo não se demonstra capaz de resolver os problemas sociais de nossos tempos. Inclusive, para 86% dos entrevistados, há uma expectativa para que os CEOs devam liderar a resolução de desafios globais e locais.

Em outras palavras, é um momento oportuno para as organizações redefinirem as suas agendas e papel na sociedade. Isto é, reavaliar o seu propósito de criação de valor para além da sustentabilidade financeira, da orientação centrada no cliente e para a maximização do retorno para seus acionistas. Todos os stakeholders são importantes e o desafio está em incorporar e equilibrar estratégias de criação de valor partilhado.

Negócios são feitos por pessoas e elas estão presentes ao longo de toda a cadeia de valor. Da produção ao consumo, esse ecossistema é constituído por indivíduos que desempenham diversos papéis – como colaboradores, fornecedores, parceiros, consumidores e membros de comunidades que interagem ou deveriam se relacionar ativamente com o negócio e as diferentes dimensões de impacto e valor que ele gera.

A gestão de suas expectativas quanto ao papel da organização em suas vidas é um tema central para a estratégia de sustentabilidade no longo prazo. É nesse mapeamento que consiste, por exemplo, a ferramenta conhecida como “Matriz de Materialidade”, cuja metodologia consiste em auscultar os mais diversos stakeholders, precisamente para diagnosticar quais são os temas materiais para eles em relação às atividades do negócio e o contexto que ele está inserido.

Ao mesmo tempo e de forma complementar, cabe à organização definir após este levantamento colaborativo, quais desses tópicos são prioritários e se comprometer com os que consegue de fato gerir e apresentar progresso.

Que mudanças desejamos ver no mundo?

Bons líderes escolhem as perguntas para as quais irão explorar caminhos e respostas. Definem prioridades, recursos e apontam a direção para as transformações. E o fato é que há muitos problemas no mundo. Portanto, desafiar-se genuinamente para solucioná-los pode ser uma boa aposta para angariar financiamentos, construir parcerias duradouras, criar valor no longo prazo, atrair os melhores talentos e engajar-se com consumidores cada vez mais exigentes e bem informados.

Ou seja, não basta as organizações encararem as agendas de sustentabilidade e responsabilidade social apenas através do diagnóstico e da responsabilização dos impactos negativos de suas atividades. É preciso ir além – e afirmar-se enquanto agentes de mudança, protagonistas de transformações positivas face às atuais e futuras instabilidades.

A boa notícia é que há cada vez mais bússolas confiáveis que auxiliam as lideranças empresariais a integrarem indicadores de governança e gestão na direção de um mundo socialmente mais justo e ecologicamente seguro.

As inspirações são plurais: para além dos cinco principais referenciais globais de sustentabilidade – Carbon Disclosure Project (CDP), Climate Disclosure (CDSB), Global Reporting Initiative (GRI), International Integrated Reporting Council (IIRC), Sustainability Accounting Standards Boards (SASB) – há também os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 da ONU, bem como demais frameworks baseados na ciência, como Science-Based Targets (SBTi) ou Task Force on Climate-Related Disclosures (TCFD). Entre tantos outros.

Da escala local à planetária, há muitas oportunidades para as organizações endereçarem soluções que mudam a vida das pessoas. É tempo de integrar agendas para gerar valor no longo prazo para todos os stakeholders. Afinal, nas palavras de Paul Polman: “Não há organização que prospera em uma sociedade que fracassa.”

Este artigo foi escrito em Português do Brasil.

Marcelo Penteado

Marcelo Penteado

Especialista em Gestão da Sustentabilidade, Formador da FLAG, Sócio e Consultor 401 Business Design
www.weare401.com