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23 de Abril de 2021

Organizações F (de felicidade) – Game Changer 12

”É bastante provável que, na última passagem de ano e depois de um ano cheio de desafios, se tenha sentado com as doze passas na palma da mão e tenha pensado “não tenho doze desejos, por isso, vou só desejar ser feliz”.

Se este foi o seu caso começo este artigo com uma má notícia para si: ser feliz não é, em si mesmo, um objetivo. Mais, segundo pesquisas na área, a Felicidade é um estado que pode ser muito frequente, embora não constante, e carece de um conjunto de gestos, emoções e rotinas diárias para se manter. Isto é, pode ser dividida em pequenos comportamentos que, no seu todo, contribuem para “a experiência de sentir alegria, contentamento, bem-estar generalizado, combinado com o sentimento de que a vida […] vale a pena ser vivida”, definição da Drª Sonja Lyubomirsky, autora do livro “Como ser feliz”, Professora de Psicologia na Universidade da Califórnia e uma das investigadoras mais respeitadas entre a comunidade científica no que se refere a esta temática. Ser mais feliz, muito frequentemente, envolve mudar o seu comportamento. Iniciativas que impliquem tornar-se mais sociável, levantar cedo para ir ao ginásio ou ter um diário da gratidão melhoram comprovadamente o bem estar generalizado individual… mas só se as fizer! Esta não é uma lista de “dicas para…” ainda que inclua algumas delas. Este é um artigo de porque é importante adotá-las e tornar-se mais feliz, no trabalho ou noutro contexto à sua escolha.

No lugar onde cresci, fui habituada a olhar para o trabalho como algo que tem de ser suportado sem satisfação. Era suposto ser duro e austero. Recordo-me que os meus pais estavam sempre sem tempo e nunca sentimos, no seio familiar, que a estabilidade financeira tinha sido alcançada para poder descontrair um pouco. E a cereja no topo do bolo era que ninguém parecia sentir-se devidamente reconhecido pelo seu esforço e sacrifício traduzido em horas de trabalho efetivo assim como de dedicação. Parece-me preocupante que a ideia de acordar e ir trabalhar seja tão tenebrosa tendo em conta o tempo das nossas vidas que dedicamos a fazê-lo. Creio ser ainda mais grave que uma percentagem elevadíssima da população ativa, roçando os oitenta por cento, dependendo da área de atividade, acredite que não há solução senão aguentar e persistir neste sofrimento.

No entanto, essa perspetiva não sobrevive ao escrutínio científico. Em boa verdade, estudos atuais da psicologia e da neurociência indicam que não só é possível ser feliz no trabalho como tem um impacto indubitavelmente positivo nas organizações: colaboradores mais felizes têm relações de melhor qualidade com os seus colegas e/ou elevados níveis de performance durante mais tempo. Infelizmente, ainda se cai no erro de acreditar que ser Feliz é um estado inato, eventualmente conotado com uma dose de loucura e, tantas vezes, de estabilidade e abundância financeira. A investigação diz-nos o contrário e que, afinal, a Felicidade está mesmo dentro de nós! Vivemos numa cultura em que, tendencialmente, o foco tende a estar dirigido ao erro e ao que está mal feito, em que o trabalho bem feito é o “motivo pelo qual foi contratado e, por isso, o motivo pelo qual é remunerado” e em que só o trabalho de excelência divina parece ser reconhecido. Valerá a pena fazer esse aparente esforço colossal e dedicar-se a contrariar a negatividade, sem que isso garanta reconhecimento ou bem estar imediatos?

As pesquisas indicam que um local de trabalho com maiores níveis de Felicidade tem características muito próprias.

1 – Níveis elevados de saúde e bem estar generalizado, maior eficiência e criatividade em contexto de resolução de problemas, mais margem para produtividade e inovação e uma evolução mais rápida na carreira;

2- Colaboradores comprometidos e motivados, que desejam contribuir para além das atividades e competências descritas na sua função e que encontram um propósito superior no seu labor diário;

3- Socialmente, pessoas que trabalham nestas empresas são vistas como mais confiáveis, merecedoras de respeito e atenção e como sendo líderes mais eficientes por demonstrarem maior apoio e interajuda em momentos difíceis;

4- Menor turnover e baixas médicas, menos acidentes de trabalho e erros cometidos, maior grau de eficiência e ainda clientes mais fidelizados e comprometidos devido à imagem externa que os seus colaboradores passam.

Parecem ser mais do que bons motivos para superar essa possível falta de motivação ou vontade. A visão global é extremamente positiva. Não restam dúvidas que são muitas as vantagens e benefícios. Trabalhar a Felicidade em contexto de trabalho é essencial e deve estar entre as prioridades das empresas.

Imagino que se esteja a perguntar como podemos tornar as nossas organizações mais felizes. Algumas das estratégias passam por uma alteração na gestão global e, em muitos casos, numa revolução cultural. Muitas empresas gritam por mudanças nas políticas de gestão de recursos humanos. Diria mesmo que empresas com défice acentuado de Felicidade entre os seus colaboradores carecem de alteração do seu propósito e visão com vista à sua própria sobrevivência. Falo, obviamente, de mudanças profundas e de raiz que começam com pequenos passos e que podem até nem ser o caso que melhor se aplica ao seu contexto. Contudo, para que haja uma mudança global de mentalidade é necessária uma alteração individual de comportamentos. Aqui estão algumas dicas que pode usar para o efeito:

1 – Arrumar e Organizar o local de Trabalho

Esta dica mostra-se essencial em contexto pandémico e de teletrabalho por auxiliar na capacidade de concentração e foco. Pesquisas defendem que “secretária organizada, mente organizada”;

2- Praticar Mindfulness

Ainda que seja uma palavra jogada fora com frequência, nos dias que correm, a sua prática está a implementar-se consistentemente por demonstrar resultados práticos e positivos em áreas como o aumento da criatividade e a redução de ansiedade;

3 – Praticar Exercício Físico

Tal como a dica anterior, a sua prática consistente, tem vindo a revelar-se fundamental para aumentar os níveis de energia e produtividade e diminuir o stress;

4- Procurar dar e receber feedback

Sendo um dos maiores preditores da Felicidade no trabalho, o feedback deverá ser sempre imediato, honesto e assertivo e incluir mensagens positivas e negativas. Uma das estratégias mais simples de se comprometer a fazê-lo é criar um instrumento próprio de registo e preparação de feedback;

5- Executar uma tarefa de cada vez

O multitasking é uma falácia dos tempos modernos. As interrupções na execução das tarefas prejudicam o fluxo de trabalho e concentração e, consequentemente, a eficiência;

6- Ajudar um colega

Estudos comprovam que a disponibilidade e espírito de entreajuda, assim como (a perspetiva de) receber um gesto de agradecimento, aumentam os níveis de Felicidade, fomentando o sentimento de gratidão;

7- Valorizar-se

Tomar nota de tarefas que faz com níveis de excelência, recompensar-se por atitudes positivas ou reconhecer o próprio valor sem qualquer expetativa promovem boas sensações;

8- Gerir bem a agenda

Uma gestão cuidada da agenda ajuda a flexibilizar horários, a dar atenção ao que é realmente importante como o descanso e o sono, reduzindo os níveis de cansaço e burnout.

Idealmente, deve implementar-se uma medida de cada vez e ir testando o que funciona, tanto a título individual como no seio das equipas. Pretende-se evitar a frustração que resulta do desejo de mudar tudo de repente e uma só vez. Sendo que somos todos diferentes, com personalidades e preferências distintas, nenhuma estratégia é uma fórmula infalível.

O contexto pandémico ajudou, em certa medida, a clarificar algumas prioridades no tecido empresarial e a sublinhar a importância dos seus recursos humanos. Vivendo a mudança de paradigma que estamos a viver (dando mais valor à família, aos afetos e à tranquilidade) prevejo que o tema continuará a crescer e a influenciar grandemente as decisões tomadas em contexto profissional. Porque, na sua essência, sendo as organizações constituídas por pessoas, não será do interesse geral aumentar os níveis de Felicidade das mesmas? Mais, não poderão estas boas práticas influenciar positivamente, não só as próprias organizações mas a sociedade em geral, mudando um pouco mais e para melhor o mundo em que vivemos? Poderão ser as organizações a origem da Felicidade em vez da causa da sua ausência? Eu atrever-me-ia a dizer que a resposta é sim.

Votos de um feliz ano de trabalho!

Catarina Pinõn Mendes
HR Consultant, Senior Trainer, Facilitator & Coach

Descarregue aqui a 12ª Edição da Revista Game Changer

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